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Gosto de escrever pois a sensação de liberdade quando o faço é indescritível. Escrevo o que sinto, o que penso, o que gostaria que acontecesse. Isto significa que os meus textos são imaginados, contudo, possuindo o seu quê de verdade. I hope that you like it**

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Alentejo, Alentejo... *



Eram 11h da manhã. Maria estava na aula. O desafio de hoje era experimentar a libertação através de vários exercícios, correspondendo cada uma deles a uma música diferente. De forma muito resumida, a professora pediu aos alunos se imaginassem sozinhos e se soltassem, dançassem, gritassem, que não tivessem medo de se expressar corporalmente, por mais "ridículos" que pudessem achar que estavam a ser.
Maria experenciou uma sensação de liberdade que nunca tinha sentido antes. De pálpebras cerradas, deixou os braços movimentarem-se em todas as direcções, permitiu que os pés se movessem ao ritmo das músicas, libertou-se de medos e preconceitos.
Um dos exercícios pedia que se imaginassem num lugar fora daquelas quatro paredes. Um lugar que quisessem conhecer ou que ainda não conhecessem o suficiente, que explorassem e descobrissem coisas novas.
A rapariga sabia bem onde ir. Alcácer do Sal. Fora lá uma quantidade pequena de vezes. Imaginou-se na zona do Castelo, que era uma das que conhecia. Encantada, olhou em seu redor. Viu, lá em baixo, o rio que em Portugal corre em sentido inverso. Apoiou as mãos no muro à sua frente. Fechou os olhos e apurou os outros sentidos. Inspirou e sentiu o cheiro doce do Alentejo. Ouviu o silêncio tranquilizante.
Agora, meninos, regressem. Era a voz da professora. Maria abriu os olhos. Sentia em si a mesma paz que encontrava quando ia a Alcácer do Sal.
Estamos na fase final. Vão ouvir a música seguinte e deixarem-se ir com ela. Chegou a altura de irmos acalmando, explicou a docente. Um clarinete começou a ouvir-se, enchendo de som toda a sala. As janelas estavam abertas e, rapidamente, Maria voou por elas até ao Teatro Pedro Nunes. Ficou sentada nas bancadas superiores, de frente para o palco. Um rapaz, vestido com uma camisa de cor roxa e com calças de ganga, solava no clarinete com uma doçura que enternecia a jovem. Ouvindo-o tocar, até parecia simples fazer-se música. Colocou os cotovelos na varanda da bancada e, com as mãos, amparou a cabeça. E ficou a ouvi-lo tocar. Não sabe ao certo quanto tempo ali ficou, a olhar para ele, a admirá-lo, a escutá-lo, como se não existisse mais nada o mundo.
Caros estudantes, vamos regressar. O rapaz do clarinete desfez-se em fumo. Maria olhava pela janela mas percebia-se que não era a paisagem exterior que ela contemplava. Estava longe, bem distante dali.
A professora fez algumas conclusões, perguntou se havia dúvidas e deu a aula por terminada. Maria saiu da sala com um sorriso nos lábios.