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Gosto de escrever pois a sensação de liberdade quando o faço é indescritível. Escrevo o que sinto, o que penso, o que gostaria que acontecesse. Isto significa que os meus textos são imaginados, contudo, possuindo o seu quê de verdade. I hope that you like it**

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Os gestos valem mais do que as palavras...**


As lágrimas caiam aos cachos dos seus olhos. Era impossível vê-lo sofrer daquela maneira. Gerava-se um aperto no peito e um nó na garganta, impossíveis de desfazer.

Não aguentei. Com os polegares e, bem suavemente, limpei as pesadas gotas, que teimavam em encharcar-lhe a face. Ele fechou os olhos e, momentaneamente, as lágrimas cessaram. Puxei-o de encontro a mim. Só me apetecia abraçá-lo, mantê-lo nos meus braços e acariciá-lo o máximo que pudesse. Passei dos pensamentos às acções. Ele deitou a cabeça no meu ombro e deixou que o meu braço esquerdo o envolvesse. Estava no meu colo, encolhido, a necessitar de conforto. Apertei-o um pouco mais e fiquei a contemplá-lo. De olhos cerrados, as lágrimas continuavam a cair, uma a uma. Por entre pequenos soluços, acariciei-lhe o rosto. Tinha as bochechas quentes e rosadas. A minha mão direita permaneceu na sua cara. Era preciso que ele sentisse que eu, realmente, estava junto dele. Para tudo. Amo-te, sussurrei-lhe.

Uma hora passou, sem que se ouvisse outro som, para além das palavras murmuradas e do vento que, ferozmente, agitava os galhos na rua. Ficámos em silêncio. Ambos percebíamos o seu significado. Não era preciso dizer nada. Afinal de contas,
os gestos valem mais do que as palavras.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Não faz sentido... *


De repente, tudo desaparecia.
Os sonhos, os sorrisos, as gargalhadas, a magia. Ficava tudo envolto numa aura negra, que toldava todos os pensamentos. Tornava-se impossível ver com clareza. O orgulho, a injustiça, o medo impossibilitava qualquer campo de acção à razão. Era extraordinária, a forma como tudo acontecia. Era rápida. Era despropositada. Era insuportável.

Matilde e Tiago gostavam um do outro. Não era apenas uma daquelas relações casuais. Respeitavam-se, confiavam um no outro e, acima de tudo, sabiam que era desejo de ambos, fazer o outro feliz. Por vezes, algo os impedia de ter o discernimento necessário para verem que o que importava, era o amor que sentiam.

Naquele dia, Tiago estava com um humor péssimo. Acordara sem vontade para nada. Apetecia-lhe ser como a avestruz, enfiar a cabeça na areia, e esperar que os problemas passassem. Parecia que ninguém o compreendia, que não o entendiam, que só o queriam deitar abaixo, que acusavam, constantemente, de tudo e mais alguma coisa, que faziam questão que a culpa o acompanhasse permanentemente. Até Matilde fazia parte deste rol.
Levantou-se, vagarosamente, e foi passear pela vila. O dia estava nublado e corria uma brisa fria, que lhe batia no rosto e lhe gelava o nariz. Espirrou. Estava a ficar constipado.
Havia momentos em que não percebia Matilde. Para além de achar que ela não estava sempre do lado dele, não sabia o que ela pretendia dele, o que ela queria que ele fizesse mais, o que queria que ele dissesse. Nunca nada era o suficiente.
Decidiu que as coisas não podiam continuar a sim e tomou o caminho em direcção a casa da namorada. Tinha dormido pouco. Passara a noite às claras, a pensar em tudo aquilo. Eram dez horas quando bateu à porta da rapariga. Esperava que ela já estivesse acordada. Quem é, perguntou a rapariga. Sou eu Matilde, o Tiago. A porta abriu-se cinco segundos depois e ficaram frente a frente. Sim, eu sei que temos de falar, assentiu Matilde, baixando a cabeça.
Tiago questionou-a sobre todos os problemas que tinha na sua cabeça. Matilde respondeu-lhe, calmamente. Sabes, um dos nossos principais problemas quando gostamos de alguém é querermos ser melhor do que somos. Quem está connosco, gosta de nós com todos os nossos defeito e virtudes. Nunca te pedi que fosses melhor, pedi-te que fosses o rapaz por quem me apaixonei, aquele rapaz que me cativou pelos seus olhos verdes, pela sinceridade nos gestos, pela doçura no agir, pela confiança no falar, pela alegria no sorriso. Tiago indagou que não era isso que ela dizia na verdade, e que maior parte do seu discurso era para lhe dizer que ele não era bom o suficiente. Tiago, não é nada disso. Eu faço tudo para estar bem contigo. Quando ages de formas que não me agradam, apenas te digo para que vejas se estás bem ou se deves fazer algo para mudar. Nunca é para te atirar abaixo. Tu habituaste-te a pensar que está sempre tudo contra ti. É mentira. Eu estou do teu lado, tal como a maior parte das pessoas que tens à tua volta. Eu estou contigo porque te amo, porque amo a pessoa que és. E caminho sempre contigo, e não no passeio da outra rua e em sentido contrário. Tens é de me dar hipótese de chegar a ti, e não achares que só te quero magoar. Tu sabes o quanto já sofri Matilde, tenho medo de passar por tudo outra vez. Eu confio em ti, acredito em ti, e sei que estás do meu lado. Então não percebo porque desaparece tudo Tiago. Porque ficamos assim magoados um com o outro, porque dizemos coisas que não sentimos.

Abraçaram-se. Matilde deixou ficar a cabeça no peito do rapaz, e chorou. Doía-lhe imenso estarem nesta situação. Nunca houvera ninguém que ela quisesse mais do que ele. Fazia tudo para estarem bem, evitava discussões. Só queria ser feliz. Tiago agarrou-a com mais força. Magoava-o muito que não se entendessem, que as coisas não estivessem a resultar. Também ele tinha as lágrimas a escorrerem pela face. Olharam um para o outro e, olhos nos olhos, disseram ao mesmo tempo, Desculpa.
Não havia nada para desculparem, mas ambos pediram. Não fazia sentido duas pessoas que gostavam tanto uma da outra e que, na maior parte das vezes, conversavam e se entendiam, estivessem a sofrer em vez de aproveitarem o amor único que existia entre eles e que não se via em praticamente nenhum outro casal.

Fecharam os olhos e os seus lábios tocaram-se.