A minha foto
Gosto de escrever pois a sensação de liberdade quando o faço é indescritível. Escrevo o que sinto, o que penso, o que gostaria que acontecesse. Isto significa que os meus textos são imaginados, contudo, possuindo o seu quê de verdade. I hope that you like it**

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Luta Eterna **




O corpo sente-se cansado. Aliás, chegou ao limite máximo da exaustão. A alma, essa, esta duas ou três ou quatro vezes pior.
Os dias vão passando e nada acontece. Os desafios que surgem são os de sempre, os obstáculos a ultrapassar são os do costume. As surpresas escasseiam e parece que assim não faz sentido viver.
Wallace diz que “ Todos os homens morrem. Mas nem todos os homens vivem”. A vida tem de ser aproveitada até ao infinito e devemos tirar o maior partido dela. E fazemos isso como? O caminho para o trabalho é o de sempre, as pessoas no comboio nunca mudam, os livros falam todos dos mesmos temas, a televisão só passa horrores e fofocas, a rádio não varia a música, os jornais já só servem para por no chão quando o local onde nos vamos sentar está sujo. Assim é complicado.
Quanto mais trabalho se tem, parece que mais nos abstraímos destas monotonias. Mas afinal, trabalhamos para quê? Para obter a satisfação profissional e, consequentemente, a pessoal? Para amealhar dinheiro para o futuro e vivermos uma reforma confortável? E é só na 3ª idade que vamos começar a viver? Até lá, trabalhamos no duro, sem distracções, sem lazer, sem surpresas?
Surpresas… todos gostamos delas e todos as esperamos, ou não é? Não é tão agradável quando um amigo aparece de repente só para nos dar um abraço? Ou quando aquela pessoa especial entra pela porta sem contarmos com isso? Ou quando uma criança que vemos na rua, simplesmente olha para nós, sorri e diz “olá”?
São as pequenas surpresas, os mais sublimes pormenores que tornam a nossa vida magnífica e com vontade de a vivermos.
O povo diz que “A vida são dois dias” e, cada vez mais, desperdiçamos este bem único que, até que provem o contrário, aparece uma vez e não dá novas oportunidades. Estamos neste mundo só de passagem. Devemos fazer com que valha a pena, não é?
Esta é uma conversa supérflua? Ou faz sentido?
O segredo está em equilibrar tudo. Trabalhar nem muito nem pouco, brincar o quanto baste, mas sorrir sempre. Ai, o sorriso. Tem poderes mágicos. Sem que nada o faça prever, um sorriso leva a um turbilhão de emoções. A mim provoca alegria, felicidade. É o maior gesto de ternura e carinho que existe. Ver alguém sorrir deixa-me nas nuvens. Gosto do sorriso malandro de uma criança, gosto do sorriso quente de um bebe, gosto do sorriso matreiro dos brincalhões, gosto do sorriso vitorioso dos orgulhosos, gosto do sorriso apaixonado dos sonhadores, gosto do sorriso de satisfação dos audazes, gosto do sorriso choroso de quem não cabe em si de contente, gosto do sorriso divertido das parvoíces, gosto do sorriso doce dos ternurentos, gosto do sorriso iluminado dos felizes, gosto do sorriso dos olhos quando os lábios não podem sorrir. Um sorriso é tudo e pode mudar o nosso dia, pô-lo às avessas. O problema é que nem sempre a vontade de sorrir aparece. O coração pode estar demasiado ferido. O corpo pode estar em mau estado. A alma pode estar macerada. Nestas situações, como é possível pôr os lábios ou os olhos a brilharem? Tenta-se. Nunca se desiste. Este é o princípio. Lutar sempre pelos nossos sonhos, pelas nossas vontades. Nunca desistir sem, pelo menos, ter tentado. Não há decepção mais frustrante do que não tentar, não lutar.

Um Mundo Ideal... (parte III)



Era Inverno e o frio fazia-se sentir. O País enfrentava uma vaga gelada, que fazia algumas cidades apresentarem graus negativos.
João voltou àquele pedaço de paz, após cinco meses de ausência. Mas, desta vez, a sensação de lá voltar era outra. O verde abundante, presente no Verão, desaparecera, dando lugar aos tons castanho, amarelo e dourado. A maioria das árvores deixara de ter aquela ramagem espessa e que tanta sombra fazia nos meses quentes, para ser substituída por ramos despidos. Apenas os pinheiros, que possuíam folha permanente, continuavam com as suas agulhas verdes e bonitas. Os caminhos encontravam-se, agora, mais ao descoberto, por já não haver tantos arbustos nem folhagem que os escondessem. O sol brilhava, apesar de ser com menos intensidade. Estava um dia agradável.
Ao passar junto a uns lagos, João deparou-se com patos e pombos que, teimosamente, insistiam em ser os exploradores anuais daquele sítio. Com o frio e o tempo do trabalho, as pessoas deixavam de frequentar aquele espaço.
O rapaz sentou-se num banco de pedra, frio, a contemplar. Olhava para as poucos pessoas que passavam; via, na água os patos a nadarem e os pombos a fazerem a sua higiene e, perguntava-se, como seria possível, não terem frio ao contactarem com a água gélida; sentia o mesmo vento que, suavemente, agitava os ramos nus; observava as folhas douradas, caídas no chão de pedra, na relva, na água. À sua frente passou um pato colorido. A cabeça era verde, com o bico amarelo, o pescoço castanho, o resto do corpo bege, as penas do rabo eram pretas e as asas possuíam somente uma pena de tonalidade roxa, que se distinguia facilmente de todas as outras. Passeava pelo passeio como gente grande, como o verdadeiro “Rei da zona”. Parou e debicou umas bagas pretas, caídas de uma árvore próxima e, continuou o seu caminho.
Aquele lugar era sublime, tanto no Inverno como no Verão. Tinha sempre o seu vestígio de magia. João pôs-se a caminho mas fez nova paragem junto ao anfiteatro. O senhor que, há uns meses atrás, via dormir num banco acima do seu, não estava lá, tal como tantas outras pessoas que agora, por causa do medo do frio ou do trabalho, não se viam.
Perto do palco passeava uma dúzia de pombos. Caminhavam para trás e para a frente, sem saberem muito bem para onde ir. De repente, e vindo sabe-se lá de onde, apareceu um gato, avançando elegantemente para as aves. Ao pressentirem e avistarem o perigo, levantaram voo num alvoroço espectacular que, só quem viu, é que ficou fascinado. Um melro preto e de bico laranja passou velozmente por todos os bancos e, logo de seguida, voou. A grande árvore que fazia sombra sobre uma das bancadas, estava completamente nua, sendo possível observar todos os ramos e raminhos que, normalmente, não se viam.
Sobre o palco apareceram uns patos, que ocupavam todo o espaço cénico como actores profissionais, contracenando numa peça que só eles entendiam.
Aquele lugar era único.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Alguém me ajuda a responder-lhe?? **


"Eu não tenho medo de nada!! Até porque eu não me apaixono!!". Estas das frases foram proferidas por ela. Estava na flor da idade, 20 aninhos, julgava-se dona de si mesma e do mundo e, pelos vistos, o medo também não fugia ao seu controlo. O medo, o sentimento que mais desnorteia uma pessoa, tanto ou mais que o próprio amor. Ela conseguiu juntar duas mentiras em tão poucas palavras...

Na verdade, ela estava em pânico. Tinha medo, muito medo, de tudo, de todos, de si própria. Vivia constantemente com receio de falhar, de que falhassem com ela, com receio de se magoar, de que a magoassem, de magoar os outros.


O medo consegue controlar a nossa vida? Até que ponto?
Somos capazes de permitir ou não que o medo comande a nossa forma de viver?


Apaixonar-se?! Ela passava a vida apaixonada. E sabe todas as consequências que isso lhe traz. Por isso, não se quer apaixonar. Por isso, nega que se apaixona com todas as forças que tem e que não tem.


Quais os benefícios e quais os prejuízos de nos apaixonarmos?
É algo bom? É algo mau?


Eu queria saber dar-lhe todas as respostas a estas questões. Mas é tudo tão complexo...



Alguém me ajuda a responder-lhe?? **

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Conversa com Deus **





Não é triste que me sinto... Não é decepcionada... Não é desiludida... É REVOLTADA!! Sinto-me revoltada. Perguntam com quem?? Com todos e com ninguém... Com o mundo em geral... Com Deus!!

Contigo, sim!! Se és justo, bondoso, misericordioso, porque levas as pessoas que mais amamos?? Dizem que quando queres que alguém se junte a ti é porque esse pessoa é precisa ai em cima. Mas não estarás a ser egoísta?! Tu és apenas um a precisar dessa pessoa, aqui em baixo há muito mais gente que necessita do amor que tu roubas sem dó nem piedade!! Não tens o direito de nos retirar assim pessoas essenciais para nós!! Não tens esse direito!! Fogo... Com tantos tretas que há por aí, tantos violadores, pedófilos, assassínos, maus carácteres que por ai andam, tu tens logo de levar pessoas boas e necessárias aos outros?! Mas, afinal, que raio de Deus és tu?!?!?!
E sabes que mais?? Fazes a porcaria que queres e deixas pessoas que acreditam em ti a sofrer e, ainda por cima, deixas os outros impotentes, sem poderem fazer nada. É impossível apagar esta dor que tu causas!! Que faço agora?? Não há nada que possa dizer ou fazer que restitua um terço da alegria que tu tão abruptamente retiraste. Ouviste?? NÃO POSSO FAZER NADA!! Nem eu nem ninguém. Dá-me uma solução!!


Não gosto de ti. Nem um bocadinho... És mau, és insensível... Que raiva pah...

sexta-feira, 24 de julho de 2009




Já chegaste? Ainda bem. Estás na relva, não estás? E são quase 18h, não são? Então, agora, deita-te. A sério! Não estou a brincar, não! Obrigado por confiares em mim. Não feches os olhos, por favor. Olha para o céu. Vês como é azul? É tão bonito. Tem uma cor suave e tranquilizante. Pelo menos para mim. Vamos, continua a ver. Vês as nuvens? Tão brancas. Não te chateia que estejam a manchar o belo azul do céu? Fazem lembrar algodão doce. Será que são assim tão macias? Será que são assim tão doces? Estende a mão, tenta alcançá-las. Vá, tenta, não desistas sem tentar. Conseguiste? Espero que sim. Fica a contemplá-las. Olha para todas as formas que elas tomam. Neste momento, aquelas mesmo por cima de ti, não parecem um dragão a cuspir fogo? Estás a vê-lo? Agora, fazem lembrar uma avioneta, a deixar atrás de si, um rasto de fumo branco. Vês as asas? E a hélice principal, bem na frente? É agradável deixar a imaginação voar.
Vamos experimentar outra coisa. Fecha os olhos. Sim, desta vez quero que os feches. Sei que te estou a chatear, mas faz-me este favor. Não te vais arrepender. Já está? Concentra-te nos sons que ouves. O vento, que passa suavemente entre os ramos fortalecidos pelo Verão. Ouves o seu sussurro? Percebes o que ele te diz? Os pássaros, que chilreiam exuberantes melodias, vaidosos do seu pio. Consegues falar com eles? Aposto que têm histórias incríveis para contar. Não passa uma estrada, mesmo por detrás do relvado onde estás? Não ouves os carros? Pois é, a rua tem pouquíssimo movimento. Raramente passam carros. Espera! Escuta! Ouves? Consegues distinguir o barulho distante do motor a trabalhar? Creio que vem lá um carro já com a sua idade. E o som dos pneus a pisar o asfalto?
Levanta-te lentamente. Não! Não abras os olhos, ainda. Senta-te. E abre os braços. Eles que façam um ângulo de 180º entre eles. O que sentes? É tarde e começa a ficar frio. Sentes o gelado da brisa nas mãos? Ao que parece, sim. Até estás a tentar agarrá-la! Foste capaz? Então, agora, solta-a. Deixa-a voltar ao seu caminho. Isso.
Põe-te de pé e deixa este ar, gélido mas agradável, acariciar-te o rosto. Ah! Sabe extraordinariamente bem. Quase que voas, já viste? Inspira bem fundo. E, de seguida, deita todo o ar cá para fora. Olha! Estás a sorrir! Estás feliz? Tens um sorriso bonito. Nunca permitas que ele te desapareça! E que tal, é boa a sensação? Relaxa? Fico contente por te ver bem. Era essa a intenção.
Vá, vou-me embora. Não estou a brincar, não. Tenho mesmo de ir. Sim, claro, noutro dia repetimos. Fica prometido. Vejo-te por aí…

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um Mundo Ideal... (parte II)



Cada vez que visitava aquele jardim, o nosso João ficava mais e mais deliciado. Havia sempre algo novo a descobrir. Encontrou novos trilhos, novos caminhos, novas situações. A diminuição do número de pessoas no recinto mostrava, claramente, que as férias estavam aí. A quantidade de turistas também o comprovava. Passeavam, igualmente satisfeitos com aquele ambiente, com mapas, dicionários e livros-guias na mão. É uma pena que o nosso país não seja apreciado por nós, portugueses. Temos paisagens maravilhosas, monumentos imponentes, gentes simpáticas e são poucos os que conhecem verdadeiramente esta realidade.
Vagueava sozinho por toda a área que lhe era permitida. O sol ia bem e, tal como da última vez, o calor fazia-se sentir com grande intensidade. Num banco metade iluminado pelos rais solares estava um senhor, meio deitado, meio sentado, numa posição um pouco estranha e parecia estar a escrever. Aquilo ontrigou João mas, passados uns segundos, percebeu, o dito senhor estava a desenhar a ramada por cima de si, apanhando talvez o reflexo da nossa maior estrela para enriquecer o seu desenho.
Mais à frente deu com um pequeno paraíso, mais um. Um lago, sobrecarregado de nenúfares e flores de lótus, de corer rosa e roxa, com uma beleza monumental. João gostava destas flores. Vê-las assim a flutuar na água transmitia-lhe paz, tranquilidade, serenidade.
Este pequeno mundo estava mesmo completamente deslocado. Era um óptimo refúgio e o rapaz aproveitava sempre que podia para ir para lá, desfrutar daquele ambiente puro e relaxar.
Atrás dfe si, um senhor com uma barba farfalhuda e já branca, assobiava uma canção qualquer, confundindo-se com a melodia dos passarinhos. O pai de João conhecia os pássaros praticamente todos pelo seu chilrear. João acreditava que, quando era mais novo, o seu pai "conversava" com estas animais voadores, através do assobio.
Magia. Aquele sítio estava repleto de magia.
Voltou a sentar-se no anfiteatro. Do lado contrário reconheceu um senhor, vira-o na primeira vez que lá estivera. Ao fim de uma visitas reparou que havia pessoas que, tal como ele, gostavam de ali estar, o que era compreensível pois toda a gente, em algum momento da sua vida, precisa de um local de sossego, de uma ocasião só para si, e aquele era, decididamente, o mundo ideal para o fazer.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Um Mundo Ideal... (parte I)




Não conhecia aquele sítio. João estivera lá apenas uma vez e tinha sido praticamente só de passagem. Mas decidiu voltar para, por si próprio, descobrir o local que, à primeira vista, lhe pareceu fabuloso. Situava-se em plena cidade, embora não tivesse nada a ver com esta. Verde, muito verde, era o que se encontrava assim que se entrava. O rapaz foi andando e, como era habitual em si, manteve os sentidos desesperadamente alerta. Queria ver tudo, ouvir tudo, cheirar tudo, sentir tudo. Começou a andar pelo trilho marcado. Ao princípio, o passeio era de cimento. Chegou a uma biforcação e hesitou, indo para a esquerda prosseguiria pela pedra escura, se fosse em frente pisaria um pavimento de terra e pequenas pedras. Foi por este último que optou. Era magnífico passear ali. A sombra das árvores criava um ambiente fresco e agradável, tendo em conta o tempo quente que se fazia sentir, há já vários dias. Observava tudo com extrema atenção, as árvores e arbustos, os pequenos lagos, a água límpida e transparente destes, as pessoas e o que faziam. Perto de uma flor de cor laranja estava um senhor, de cócoras, a fotografar. era algo que João também gostava,fotografar e ser fotografado. Tinha a certeza que, assim que tivesse possibilidades, faria da fotografia um dos seus hobbies. Mais à frente encontrou pessoas a ler, na tranquilidade daquele lugar invulgar para uma capital. A cada passo que dava, inspirava bem fundo e expirava com um suspiro. Aquilo tudo era fantástico. Absorveu vários cheiros, das flores e das árvores. E, nesse momento, sorriu perante a lembrança do seu pai. Se ele ali estivesse, dir-lhe-ia o nome de praticamente todas as árvores e flores, olhando para as suas folhas e através do seu aroma, respectivamente. O seu progenitor nascera e crescera no campo e, para além disso, era devereas culto, possivelmente a pessoa mais culta que João conhecia. Virou à esquerda, andou, tornou a voltar à direita, desceu e subiu escadas, deu a volta ao jardim, uma e duas vezes. Junto a um bando estavam um casal já com alguma idade e uma criança. Deveriam ser avós e neta, supôs. Era o lugar ideal para partilhar com as pessoas que amamos. Olhou ao seu redor e viu borboletas, lindas, a esvoaçar, pombos a caminhar no chão como se fossem gente, as pessoas a passar, apressadas ou não, a conversar e a desfrutar daquele mundo de sonho. Caminhou por mais um tempo. Num grande lago nadavam patos. Na esplanada do café as pessoas olhavam a água ou o céu ou a vegetação ou, simplesmente, olhavam umas para as outras ou então ainda, não olhavam para nada em concreto. Os pombos passeavam pelo estrado de madeira, pelas cadeiras, pelas mesas. João centrou-se, desta vez, nos sons. Fechou os olhos e foi invadido pelo som da água a correr, pelo chilrear dos pássaros, pelo vento leve a fazer abanar os galhos mais frágeis. A natureza era simplesmente genial. Quanto mais se embrenhava por aqueles caminhos, mais boquiaberto ficava. Fez outra paragem num género de ponte. A água corria delicadamente por entre as pedras, originando pequenas cascatas com uma beleza colossal. Colocou uns phones nos ouvidos e, no mp3, selecionou uma música calma. Sentou-se num bando de pedra e escutou o piano, observando com minúcia o espaço à sua volta. Dirigiu-se a um pequeno anfiteatro e, mais uma vez, olhou para as pessoas. Conversavam, caso estivessem acompanhadas, liam um livro, que por certo lhe transmitiam bem estar, ou um jornal, onde se inteiravam das notícias da actualidade, estudantes concentravam-se na matéria para os exames das próximas semanas. Deixou-se vaguear. Aquele lugar... Não havia palavras. Nun desenho animado, mais concretamente no Alladin, este passeia com a sua amada num tapete voador. Era assim que João gostava de estar, a voar num tapete mágico, vendo aquele pedaço de mundo ideal. Achou que se habituaria àquele sítio e que não se importaria de viver por lá. Parecia-lhe tudo irreal. Aqueles paraísos só existiam nas histórias de encantar. Beliscou-se no braço. Queria ter a certeza que não estava a sonhar. Aquele passaria a ser o local, sem sombra de dúvidas, da sua máxima preferência.
Sentou-se, também ele, no anfiteatro. Um pombo veio cumprimentá-lo. Olhou para ele, inclinando ligeiramente a cabeça, e João deu por si a fazer o mesmo. Que parvoíce, pensou. Quando ergueu a cabeça, os seus olhos pararam num grupo de criança sentadas na outra ponta do anfiteatro. Porque é que a mim nunca ninguém me levou a fazer "visitas de estudo" a um sítio como este, interrogou-se. Não era justo. Mas sorriu, ouvindo o riso daqueles pequenos, vendo as brincadeiras das crianças.
Levantou-se e foi dar mais uma volta. Junto a um dos lagos, os miúdos passaram por ele, acompanhados pelas educadoras. Uma das meninas juntou as mãos como se rezasse e, virando-se para a responsável pelo grupo pediu, Podemos dar um mergulho. Realmente, era o que apetecia perante aquele sol abrasador. Foi andando e, mais uma vez, tornou a avistar uma escolinha. Aquele grupo tinha uma particularidade, por cima da roupa, traziam uma bata que, inicialmente era branca e, agora, encontrava-se pintada pelas próprias crianças, com riscos e rabiscos, desenhos nítidos, borrões, as suas mãos e os seus pés. Estavam a fazer um desfile, os pais aplaudiam e sorriam, tiravam fotografias, encontravam-se orgulhosos dos seus pequenos rebentos. João parou por momentos e, também ele sorriu perante aqueles modelitos mais do que originais.
Olhou o céu. Passou por debaixo de uns toldos e reparou que neles estavam escritos poemas. Houve um que ele gostou bastante. Chamava-se "Esplendor na relva", da autoria de William Wordsworth, com tradução de Catarina Belo.


Esplendor na Relva

Apesar de a luminosidade
outrora tão brilhante
Estar agora para sempre afastada do meu olhar,
Ainda que nada possa devolver o momento
Do esplendor na relva,
da glória na flor,
Não nos lamentaremos, inspirados
no que fica para trás;
Na empatia primordial
que tendo sido sempre será;
Nos suaves pensamentos que nascem
do sofrimento humano;
Na fé que supera a morte,
Nos tempos que anunciam o espírito filosófico.


Aquele lugar era para cima de perfeito...

sábado, 11 de julho de 2009

Meninices...



Entrei na secretaria, que ficava no primeiro piso. Estavam três pessoas à minha frente, para serem atendidas. Pus-me na fila e, em pé, esperei pela minha vez. Ao meu lado esquerdo estavam uma mãe, sentada numa cadeira, e a filha que, pela sala, brincava com um balão verde. Trazia um vestido branco, com motivos florais de cores vermelhos e verdes, que lhe chegava aos tornozelos. Aparentava ter dois anos, idade que confirmei mais tarde numa conversa que ouvi, entre a mãe da menina e a senhora ao balcão. Pegava no balão e atirava-o para uma bancada de chapa, pregada à parede, que continha panfletos. O balão escorregava e a criança voltava a apanhá-lo e a lançá-lo. Era fascinante ver a alegria e ouvir a gargalhada doce daquela menina, sempre que o balão caía. Aquilo dava-lhe um gozo enorme. E era muito agradável sentir o prazer que aquela situação lhe proporcionava. É tão bom ser criança! As mais pequenas e insignificantes coisas fazem-nos felizes nessa altura da nossa vida. Tudo o que é simples é o que nos diverte. Tudo o que a um adulto é desprezável, a uma criança permite um momento de satisfação. Quem me dera ser para sempre criança...
A certa altura, a mãe chamou-a. Filha, anda cá, pára com isso, brincas com o balão no carro. Logo de seguida ouviu-se uma voz masculina, Deixa a miúda!, e a criança continuou a brincadeira. Sorri, perante tudo aquilo. Por vezes, os meus pais eram assim. Não devido às minhas brincadeiras com balões que, infelizmente, a sociedade e o tempo não mo permitem pois não fica bem a uma jovem da minha idade, mas sim perante outros jogos e diversões.
A menina não abdicava do seu momento de felicidade e continuava a diversão. De repente, o balão ficou preso e não caíu. Voltou-se muito rápido para a mãe e soltou um ohhh! de excalmação, pedindo-lhe que lhe devolvesse o brinquedo. A mãe chamou-a e disse-lhe que só lhe dava o balão se ela a deixasse tirar a chave que a pequena trazia ao pescoço. Ela assentiu imediatamente e, com os seus bracitos frágeis, tentou retirá-la. Enquanto crianças, as chantagens não têm qualquer efeito em nós, fazemos tudo o que nos pedem se em troca tivermos o que queremos. A mãe levantou-se e deu-lhe novamente o balão, após guardar a dita chave. E a paródia voltou. Ao fim de um tempo, a gaiata agarrou o balão e olhou para mim. Sorri-lhe e ela fez o mesmo, atirando-me, nesse momento, o balão. E brincámos. O restante tempo que estive à espera diverti-me com ela. Sorri de cada vez que ela ria por estar contente, sorri ao ouvir cada gargalhada, sorri de cada vez que o balão fugia para trás dela e a pequena não o alcançava, sorri de cada vez que tive de me baixar para chegar ao balão, sorri porque me senti pequena outra vez.

São os pormenores que fazem a diferença. Basta um sorriso, uma gargalhada, uma manifestação de felicidade dos que me rodeiam e eu sou feliz.

domingo, 5 de julho de 2009

Solidão**




“A vida não facilita em nada a minha tarefa de não sofrer e não chorar.

A última situação mais flagrante passou-se numa enfermaria. A D. Maria (imaginemos que se chama assim) tinha 90 anos e encontrava-se internada. Tinha caído em sua casa e necessitava de uma intervenção cirúrgica a um dos membros inferiores. Infelizmente, já não se encontrava no seu estado pleno de lucidez, vendo imagens que já não estavam lá, falando de pessoas que se encontravam longe, como se permanecessem junto a ela.
Nessa tarde, tirei um tempinho do meu horário de trabalho para me sentar perto da sua cama. Fiquei a observá-la. Foi intrigante a forma como me olhou. Os seus olhos brilhavam mas, no entanto, era visível neles uma tristeza enorme. Passei-lhe a mão pela cabeça. E de seguida, pelos cabelos. E fiquei assim por um tempo que me pareceu longo mas não o sei dizer ao certo. A D. Maria fechou os olhos e deixou-se embalar pelos meus gestos. Nessa altura, senti um ardor nos olhos e a visão começou-me a ficar turva. Olhei-a com ternura e fechei os olhos. Algo me escorreu pelo rosto e soube imediatamente o que era. Uma lágrima, teimosa e atrevida, caía sem que eu a pudesse controlar. Quis controlar-me, para que ninguém percebesse o que se passava. E consegui fazê-lo. Dei por mim a pensar na solidão que aquela senhora deveria sentir, sem visitas, sem ninguém que estivesse ao lado dela. E apercebi-me que esta é a realidade de praticamente todos os idosos no nosso país. As pessoas com mais sabedoria e com mais experiências de vida para partilhar, são as que são menos ouvidas, as que menos são consideradas, aquelas por quem falta o maior respeito. Os mais velhos podem fazer birras, comportarem-se como crianças, mas fazem isso apenas e somente para chamar à atenção, para poderem ter carinho e amor, que na maior parte das vezes, é aquilo de que mais carecem. Fiquei a contemplá-la com ternura. O rosto dela parecia acabado, com todas as rugas de expressão devido à idade avançada. A pele estava a perder flexibilidade mas encontrava-se corada. Sentei-me numa cadeira, à sua cabeceira. Ela deu-me a mão e fiquei a fazer-lhe festinhas. De repente, uma madeixa de cabelo fugiu-me para a frente dos olhos, tapando-me a vista direita. A D. Maria levantou a mão, com a fraca força que tinha e, levemente, tentou afastar a franja caída da minha cara. Tentou uma e duas vezes e, ao fim de algumas tentativas, conseguiu vencer o jeito teimoso do meu cabelo e colocá-lo atrás da orelha. Nesse momento, uma lágrima escorreu-me pela face sem autorização. Pedi-lhe licença e levantei-me. Sabia que, após esta lágrima, viriam outra e outra, e não podia chorar ali. Dirigi-me à casa de banho e apeteceu-me gritar e destruir tudo à minha volta. Não é normal que uma pessoa chegue ao fim da sua vida e tenha de ficar sozinha e abandonada à sua sorte, sem amor e carinho, sem respeito e consideração, sem gestos de ternura… Tentei controlar-me e manter a calma. Passei a cara por água fria e tive de ganhar força para permanecer serena. Saí, decidida a enfrentar tudo o que me esperava.”


Testemunho de uma futura Enfermeira

terça-feira, 26 de maio de 2009

Pedido de Ajuda!!




Estado constante de apatia. Era assim que João se encontrava. Constante APATIA... Ia vivendo a sua vida, fazendo as suas coisas, mas sem qualquer alegria, sem qualquer entusiasmo. Viver por viver... Não será melhor dizer sobreviver?! Pois bem, João ia sobrevivendo. Não era como nos livros, onde se relata apenas que a personagem tal estava numa tristeza profunda e, ao virarmos umas quantas páginas, essa mesma personagem já se encontra a dar pulos de contente, porque já tinha passado uma "carrada" de meses. Aquilo era a vida real!! Para João, o presente era apenas mais um dia e o futuro nem existia... O passado, bem, o passado, esse, encontrava-se bem apresentado, de fato e gravata. Se bem que, segundo João, um pano na cabeça e um machado nas mãos, lhe ficassem melhor!! Pela perspectiva deste rapaz, o passado era mais um carrasco, ou algo do género.
Pobre João. Não queria pedir ajuda e ninguém percebia que ele necessitava dela urgentemente. Porque se encontrava naquele estado?! Aparentemente, não tinha razões!!
Então, porquê?! Esta pergunta passava-lhe pela cabeça, vezes e vezes sem conta. Seria culpa do espírito fraco que tinha?? Todos lhe diziam que era um miúdo lutador e com uma força incrível. Seria mesmo assim??
Estava cansado.... Não só fisicamente, pois nunca parava, andava sempre de um lado para o outro; psicologicamente, já não era o mesmo há imenso tempo. A sua cabeça não queria pensar em nada. Seria possível isso acontecer?? Não se pensar em nada?? Naaaa... não lhe parecia possível... infelizmente...


"Socorro!!", gritava o seu subconsciente...

domingo, 24 de maio de 2009

Saudades...




Era noite. No céu não se viam as estrelas e a ausência do luar era sentida por quem mais o amava.
Rita estava deitada na sua cama, que ficava perto da janela. Estava sozinha em casa. Não sabia ao certo que horas eram mas isso também não a incomodava. Tinha os estores levantados e a cortina afastada, de modo a poder ver a escuridão do exterior. Houvera um apagão na região onde morava, portanto, lá fora estava escuro como breu. O rádio passava músicas calmas. Flightless Bird era o que estava a ouvir naquele momento.
De repente, um barulho ensurdecedor, vindo do exterior, interrompeu toda a paz. Começara a chover torrencialmente. Levantou-se num pulo, dirigiu-se à janela e ficou a comtemplar a água a cair.
Todo aquele ambiente... ela adorava-o! Não sabia explicar... Adorava o escuro da noite (embora sentisse falta do luar), gostava do som dos pingos da chuva a baterem o solo, o vento a soprar,... Por momentos, imaginou como seria sair à rua naquelas condições: fechar os olhos, levantar a cabeça, e deixar que a água lhe purificasse o corpo e, mais importante que tudo, a alma. Não conseguia dizer porquê mas não se sentia bem consigo mesma. Sentia-se suja, sem razão aparente para que tal acontecesse. Não gostava do que tinha sido até então, não gostava do que era. E esperava que a água que jorrava do céu a "lavasse", de modo a poder começar tudo de novo.
Acordou do sonho em que se encontrava e caiu na realidade, na pessoa que na verdade era... No rosto ficou estampada uma tristeza que ninguém compreendia, nem ela própria.
Voltou a deitar-se na cama e, ficou novamente, a observar o exterior pelo vidro. Sentia que a sua vida não era completa. Contudo, não sabia o que lhe faltava. Algo dentro de si encontrava-se por preencher, algo dentro de si era um buraco vazio e demasiado profundo para que se lhe coseguisse ver o fim.
Estava extremamente pensativa. Tinha praticamente tudo: a família, que a amava; os amigos, que a adoram; a faculdade, onde até não era assim tão má aluna; o trabalho, onde era respeitada; a música, que era a sua maior paixão... Então, o que lhe faltava?? Ninguém compreendia, muito menos ela.
Aos poucos foi percebendo... a família, ou grande parte dela, estava longe e Rita sentia imensas saudades; os verdadeiros amigos eram escassos e estava com eles demasiado pouco tempo; na faculdade não atingia os resultados que pretendia e que lhe eram esperados por algumas pessoas; estava sempre, sempre cansada no trabalho; e, por vezes, faltava-lhe a paciência que deveria ter para a música. Reflectiu até que ponto não estaria a ser tonta... Sentiu-se corar por estar a pensar assim. Afinal, que idade tinha?? Oito anos?!
Gostar de si própria, era isso que lhe faltava. Apesar de ter pouca idade, já tinha ouvido e vivido situações nada agradáveis, que magoam e deitam uma pessoa abaixo. Costumavam dizer-lhe que era uma boa menina e, com base nisso, não considerava que merecesse ter passado por tudo o que já lhe acontecera.
Era tardíssimo. No entretanto, parara de chover. Deixou-se continuar estendida na cama. Gostaria de voltar a ser pequena. Era tudo tão simples nessa fase. A inocência, a ingenuidade, a visão de falta de maldade no mundo... Que saudades de ser assim... Não ter grandes responsabilidades, ter quem nos pegue ao colo e nos abrace, não ter de fingir que não se está a chorar...
Naquela noite, Rita encontrava-se nostálgica... Aquele seu estado resumia-se a saudades... muitas saudades...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Freedom^^



Pegou na bicicleta e pedalou...
Para Carolina aquela era a melhor sensação do mundo, sem dúvida. Cada vez que ía à aldeia, agarrava na bicicleta do tio e percorria quilómetros. Estradas alcatroadas ou de terra batida, mato, trilhos, nada lhe escapava. Era uma sensação de liberdade elevada ao extremo, sentia-se livre como nunca conseguia ser.
Não era uma grande ciclista mas o medo não fazia parte do seu vocabulário e aventura era o seu nome do meio. Estava sempre disposta a novos desafios e nunca dizia nunca.
O caminho que mais gostava de fazer era na estrada principal, desde o cimo do povo até à estrada nacional. Não era nada demasiado arriscado, como seria de supôr, mas ela adorava-o. A estrada era coberta de alcatrão e sempre a descer. A final da tarde, altura em que Carolina costuma fazer o seu passeio (indispensável) quando ía ao norte, não havia quase carros a circular. Era a rampa principal, logo após uma grande curva à direita, que ela se divertia mais. Pedalava um pouco, até atingir alguma velocidade, e deixava-se ir; levantava as mãos do guiador e soltava o cabelo, que lhe chegava um pouco abaixo dos ombros; fechava os olhos, abria os braços e aqueles 15 segundos de vento a acariciar-lhe a o rosto pareciam-lhe uma saborosa eternidade. A adrenalina que sentia cada vez que repetia este ritual era impossível de descrever. Sentia-se solta de todas as correntes com que o mundo nos prende, sentia-se livre de preconceitos, sentia-se pura, inocente, segura.
Quando chegava ao fim da tal estrada inclinada voltava a pôr as mãos na bicicleta e abria novamente os olhos. E apercebia-se da beleza única da natureza, ouvia os pássaros chilrearem, a água a correr na ribeira que passava ali perto e pensava que o mundo à sua era mágico.
Voltou a pedalar, absorta nos seus pensamentos e de sorriso na cara, tentando conservar em si, o máximo de tempo possível, aquela sensação fantástica.
- Carolina! - ouviu o seu pai chamar enquanto passava em frente à casa do seu tio - Vem para casa que está a ficar frio!
Foi então que Carolina caiu na realidade e o mundo voltou a ficar cinzento, com aqueles tons tristes e escuros, com que todos vêem o que os rodeia...

domingo, 5 de abril de 2009

Não faço ideia...


Se pudessemos viver eternamente viveríamos para quê?...Isto é o mesmo que dizer que vivemos a vida com um propósito, que deve ser assim. O sentido da vida e a sua limitação pela morte leva a que vivamos com um determinado fim...
...
E se não tivermos nenhum objectivo?...Se não tivermos nada que nos faça viver?...Se nada nos motivar?...
...
Devemos continuar a "viver"?...Não seria mais lógico pôr fim a esse sufoco de andar no mundo só por andar?...
...
E se não se conseguir pôr termo à vida?...Se se for demasiado cobarde para o fazer?Ou se se viver agarrado a uma esperança vã de que as coisas mudem?...
...
E se se viver constantemente neste dilema?...


(escrito dia 11 de Março de 2009)