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Gosto de escrever pois a sensação de liberdade quando o faço é indescritível. Escrevo o que sinto, o que penso, o que gostaria que acontecesse. Isto significa que os meus textos são imaginados, contudo, possuindo o seu quê de verdade. I hope that you like it**

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Um Mundo Ideal... (parte I)




Não conhecia aquele sítio. João estivera lá apenas uma vez e tinha sido praticamente só de passagem. Mas decidiu voltar para, por si próprio, descobrir o local que, à primeira vista, lhe pareceu fabuloso. Situava-se em plena cidade, embora não tivesse nada a ver com esta. Verde, muito verde, era o que se encontrava assim que se entrava. O rapaz foi andando e, como era habitual em si, manteve os sentidos desesperadamente alerta. Queria ver tudo, ouvir tudo, cheirar tudo, sentir tudo. Começou a andar pelo trilho marcado. Ao princípio, o passeio era de cimento. Chegou a uma biforcação e hesitou, indo para a esquerda prosseguiria pela pedra escura, se fosse em frente pisaria um pavimento de terra e pequenas pedras. Foi por este último que optou. Era magnífico passear ali. A sombra das árvores criava um ambiente fresco e agradável, tendo em conta o tempo quente que se fazia sentir, há já vários dias. Observava tudo com extrema atenção, as árvores e arbustos, os pequenos lagos, a água límpida e transparente destes, as pessoas e o que faziam. Perto de uma flor de cor laranja estava um senhor, de cócoras, a fotografar. era algo que João também gostava,fotografar e ser fotografado. Tinha a certeza que, assim que tivesse possibilidades, faria da fotografia um dos seus hobbies. Mais à frente encontrou pessoas a ler, na tranquilidade daquele lugar invulgar para uma capital. A cada passo que dava, inspirava bem fundo e expirava com um suspiro. Aquilo tudo era fantástico. Absorveu vários cheiros, das flores e das árvores. E, nesse momento, sorriu perante a lembrança do seu pai. Se ele ali estivesse, dir-lhe-ia o nome de praticamente todas as árvores e flores, olhando para as suas folhas e através do seu aroma, respectivamente. O seu progenitor nascera e crescera no campo e, para além disso, era devereas culto, possivelmente a pessoa mais culta que João conhecia. Virou à esquerda, andou, tornou a voltar à direita, desceu e subiu escadas, deu a volta ao jardim, uma e duas vezes. Junto a um bando estavam um casal já com alguma idade e uma criança. Deveriam ser avós e neta, supôs. Era o lugar ideal para partilhar com as pessoas que amamos. Olhou ao seu redor e viu borboletas, lindas, a esvoaçar, pombos a caminhar no chão como se fossem gente, as pessoas a passar, apressadas ou não, a conversar e a desfrutar daquele mundo de sonho. Caminhou por mais um tempo. Num grande lago nadavam patos. Na esplanada do café as pessoas olhavam a água ou o céu ou a vegetação ou, simplesmente, olhavam umas para as outras ou então ainda, não olhavam para nada em concreto. Os pombos passeavam pelo estrado de madeira, pelas cadeiras, pelas mesas. João centrou-se, desta vez, nos sons. Fechou os olhos e foi invadido pelo som da água a correr, pelo chilrear dos pássaros, pelo vento leve a fazer abanar os galhos mais frágeis. A natureza era simplesmente genial. Quanto mais se embrenhava por aqueles caminhos, mais boquiaberto ficava. Fez outra paragem num género de ponte. A água corria delicadamente por entre as pedras, originando pequenas cascatas com uma beleza colossal. Colocou uns phones nos ouvidos e, no mp3, selecionou uma música calma. Sentou-se num bando de pedra e escutou o piano, observando com minúcia o espaço à sua volta. Dirigiu-se a um pequeno anfiteatro e, mais uma vez, olhou para as pessoas. Conversavam, caso estivessem acompanhadas, liam um livro, que por certo lhe transmitiam bem estar, ou um jornal, onde se inteiravam das notícias da actualidade, estudantes concentravam-se na matéria para os exames das próximas semanas. Deixou-se vaguear. Aquele lugar... Não havia palavras. Nun desenho animado, mais concretamente no Alladin, este passeia com a sua amada num tapete voador. Era assim que João gostava de estar, a voar num tapete mágico, vendo aquele pedaço de mundo ideal. Achou que se habituaria àquele sítio e que não se importaria de viver por lá. Parecia-lhe tudo irreal. Aqueles paraísos só existiam nas histórias de encantar. Beliscou-se no braço. Queria ter a certeza que não estava a sonhar. Aquele passaria a ser o local, sem sombra de dúvidas, da sua máxima preferência.
Sentou-se, também ele, no anfiteatro. Um pombo veio cumprimentá-lo. Olhou para ele, inclinando ligeiramente a cabeça, e João deu por si a fazer o mesmo. Que parvoíce, pensou. Quando ergueu a cabeça, os seus olhos pararam num grupo de criança sentadas na outra ponta do anfiteatro. Porque é que a mim nunca ninguém me levou a fazer "visitas de estudo" a um sítio como este, interrogou-se. Não era justo. Mas sorriu, ouvindo o riso daqueles pequenos, vendo as brincadeiras das crianças.
Levantou-se e foi dar mais uma volta. Junto a um dos lagos, os miúdos passaram por ele, acompanhados pelas educadoras. Uma das meninas juntou as mãos como se rezasse e, virando-se para a responsável pelo grupo pediu, Podemos dar um mergulho. Realmente, era o que apetecia perante aquele sol abrasador. Foi andando e, mais uma vez, tornou a avistar uma escolinha. Aquele grupo tinha uma particularidade, por cima da roupa, traziam uma bata que, inicialmente era branca e, agora, encontrava-se pintada pelas próprias crianças, com riscos e rabiscos, desenhos nítidos, borrões, as suas mãos e os seus pés. Estavam a fazer um desfile, os pais aplaudiam e sorriam, tiravam fotografias, encontravam-se orgulhosos dos seus pequenos rebentos. João parou por momentos e, também ele sorriu perante aqueles modelitos mais do que originais.
Olhou o céu. Passou por debaixo de uns toldos e reparou que neles estavam escritos poemas. Houve um que ele gostou bastante. Chamava-se "Esplendor na relva", da autoria de William Wordsworth, com tradução de Catarina Belo.


Esplendor na Relva

Apesar de a luminosidade
outrora tão brilhante
Estar agora para sempre afastada do meu olhar,
Ainda que nada possa devolver o momento
Do esplendor na relva,
da glória na flor,
Não nos lamentaremos, inspirados
no que fica para trás;
Na empatia primordial
que tendo sido sempre será;
Nos suaves pensamentos que nascem
do sofrimento humano;
Na fé que supera a morte,
Nos tempos que anunciam o espírito filosófico.


Aquele lugar era para cima de perfeito...

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