A ocasião era de cerimónia. Filipa escolheu um vestido de alças cinzento que combinava com o fato de Gonçalo. Maquilhou-se e calçou as sandálias pretas. Só queria estar à altura do noivo, parecer tão solene e elegante quanto ele. Saiu do quarto e aguardou na salinha. Quando Gonçalo assomou à porta e ela observou-o cuidadosamente. O fato cinzento-escuro combinava na perfeição com a camisa de tom mais claro e a gravata lilás. O cabelo estava ordeiramente desalinhado, com jeitos bonitos. O sorriso aberto terminava o quadro que a fez suspirar. Estou bem, perguntou. Estás deslumbrante Princesa. De mãos dadas saíram de casa e encaminharam-se para o Pavilhão Municipal, onde iria decorrer a Cerimónia de Homenagem a colaboradores importantes da empresa. Gonçalo era um deles. Era o mais novo mas, não obstante isso, ia ser distinguido pelo seu trabalho incansável e pela disposição imediata para todo e qualquer serviço que lhe solicitassem.
Embora não o confessasse, estava nervoso. Era a primeira vez que alguém tão novo recebia aquele tipo de distinção. Tinha trabalhado para tal, é verdade, mas não conseguia deixar de se sentir ansioso. Olhou para a Filipa e acalmou-se. Ela estava do seu lado agora, e sabia que estaria sempre.
Sentaram-se e assistiram ao início da cerimónia. Gonçalo foi o terceiro a ser chamado ao palco. Após os apresentadores lerem um pouco da sua biografia e do trabalho desenvolvido na empresa, Filipa viu o noivo levantar-se e dirigir-se à boca de cena. Ele merecia. Enquanto Gonçalo caminhava, a rapariga olhava-o com atenção. Aquele jeito confiante estava com ele desde que se conheciam. E como ela gostava disso… Gonçalo tinha uma aura que ela não conseguia explicar.
Decorriam os beijinhos e cumprimentos, a entrega de flores, do diploma e da medalha. Filipa fitava-o e pensava. Muito tinha mudado desde que tinham começado a namorar. Ela sentia-se completamente envolvida nesta relação, cada vez mais. Ele assumiu, ao longo de tempo, uma postura mais madura e adulta. Eram um casal feliz.
Após uma salva de palmas, Gonçalo encaminhou-se, novamente, para o seu lugar. Filipa estava à sua espera, em pé. Ele aproximou-se, deu-lhe um beijo muito suave nos lábios e entregou-lhe o ramo de flores que lhe fora oferecido. Encostou os lábios ao ouvido da amada e sussurrou, Obrigado, por estares sempre do meu lado, amo-te. Filipa corou, assentiu com a cabeça, Vou estar sempre aqui, disse e sorriu. Estava orgulhosa dele. Sentia-se como a Primeira Dama a acompanhar o seu Presidente. Ele recebia elogios e parabéns de outros colaboradores e amigos mas fazia questão de não largar a mão da noiva.
Quando terminou, saíram do Pavilhão e caminharam junto à marginal. Estiveste muito bem hoje. Tinha o teu apoio, era impossível que corresse mal. Vamos ficar sempre juntos. Vamos, para sempre.
Este artigo que editaste, trouxe-me à memória alguns versos de dois poemas de Alberto Caeiro. Não me perguntes porquê. Aí vão eles:
ResponderEliminar"A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta."
"Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora.
Sim, é ela própria, a coisa sem ser oculta,
Que mora nela.
Mas eu, com consciência e sensações e pensamentos,
Serei como uma coisa?
Que há a mais ou a menos em mim?
Seria bom e feliz se eu fosse só o meu corpo —
Mas sou também outra coisa, mais ou menos que só isso.
Que coisa a mais ou a menos é que eu sou?"
Beijo
pai